Devido a umas reflexões que andei fazendo na minha vida pessoal, resolvi voltar com esse blog com outro caráter. Colocar não mais apenas relatos da minha militância cotidiana, mas uma forma importante historicamente na minha vida de me expressar a respeito da opressão e da exploração. Digamos, seguramente, que eu só segurei várias barras pelo fato de poder me expressar pela escrita.
Ha algumas semanas uma companheira de luta minha, Camila Radwanski, se suicidou. E pela primeira vez essa tarefa que parecia tão individual, escrever para me expressar, ganhou a dimensão devida : entender tudo aquilo que se passa na subjetividade de cada mulher ou homem que lide com a opressão da sociedade capitalista como um aporte fundamental para um combate ideológico profundo contra um sistema que destroi vidas materialmente e subjetivamente. Nesse sentido, eu não tenho o direito de continuar mantendo em silêncio ou tornando individual esse meu combate.
Camila usava no seu profile do facebook a citação de que seu corpo era um campo de batalha. Não podemos mais permitir que essas batalhas se deem dentro de nossos corpos se somos tantos, que essas batalhas se dêem nas ruas e nas idéias. O nosso silêncio e a nossa subjetivação são trunfos do capitalismo contra nós.
Mas esse texto não é só sobre ela. Ha algum tempo eu refleti e escrevi um texto para minha organização sobre a subjetividade da mulher revolucionária. Nossa situação de fragmentadas pela contradição entre a escolha consciente de rumar nossas vidas, nos apropriando delas, na luta por um mundo sem exploração, e tudo aquilo que a irracionalidade e a anarquia do sistema capitalista impõe às nossas subjetividades. Lutamos pela propriedade legítima de nossas idéias, nossos corpos. Eu tenho uma história de opressão que prefiro não contar nessas linhas, isso me gerou medo, me gerou insegurança e uma quase certeza de sou incapaz de fazer qualquer coisa bem. Por isso tive, por muito tempo, medo e vergonha de fazer arte. Nesse momento da minha vida onde agora tão conscientemente me deparo com isso, percebo que afinal, a coisa mais revolucionária a ser feita sobre isso é me apropriar das minhas idéias e romper o silêncio.
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